terça-feira, 27 de junho de 2017

E se o Flamengo cumprisse a Lei da Meia Entrada?

Não tem como passar batido pelo tema do preço dos ingressos. A percepção é de que o preço está abusivamente alto, incompatível com o que se deve pagar para assistir um jogo em um estádio temporário, distante da maior parte dos torcedores e que tem dificuldades de acesso. E ainda por cima aguentar Márcio Araújo em campo!

O resultado é que temos um estádio de cerca de 20 mil pessoas não enche. Um Flamengo não enche um estádio para 20 mil! E nem tem como encher, dessa forma. Veja a tabela de preço dos ingressos para o jogo contra o São Paulo, pelo Campeonato Brasileiro:
Setor Norte
Público Geral - R$ 200 (meia R$ 100)
Sócios Tradição - R$ 150 (meia R$ 75)
Sócios Demais Planos - R$ 100 (meia R$ 50) 
Setores Sul e Leste
Público Geral - R$ 280 (meia R$ 140)
Sócios Tradição - R$ 210 (meia R$ 105)
Sócios Demais Planos - R$ 140 (meia R$ 70) 
Setor Oeste
Público Geral - R$ 360 (meia R$ 180)
Sócio Tradição - R$ 270 (meia R$ 135)
Sócio Demais Planos - R$ 180 (meia R$ 90) 
Visitantes
R$ 200 (meia R$ 100)
A diretoria afirma que o preço é alto por conta das meias e gratuidades. Que na verdade, esses preços são fictícios. E é a mais plena verdade. No jogo contra a Chapecoense, por exemplo, somente 1% dos torcedores pagou o preço cheio, segundo o Borderô. Um porcento! Mas aí entra a questão da percepção. Entre o valor real e o valor divulgado há uma diferença absurda. E que poderia ser alterada caso o Flamengo fizesse valer a lei da meia entrada, que limita a apenas 40% dos ingressos.

Juntando dinheiro para comprar meu ingresso na Ilha do Urubu
Hoje, supondo o pior caso, que seria a que todos os compradores pagassem meia entrada e que todos fossem Sócios Torcedores (exceto visitantes, logicamente), caso o Flamengo vendesse todos os ingressos arrecadaria R$ 1.123.606,00. Veja o cálculo:

Setor Lugares Preço da meia pra ST Total
Oeste 4990 R$ 90 R$ 449.100,00
Visitantes 2001 R$ 100 R$ 200.100,00
Norte 2914 (1500 gratuidades) R$ 50 R$ 145.700,00
Sul 2121 R$ 70 R$ 148.470,00
Leste 6437 R$ 70 R$ 180.236,00

Total geral: R$ 1.123.606,00
Tíquete médio: R$ 60,85

Agora vou fazer o seguinte cálculo: E se o Flamengo cobrasse 50% dessa mesma tabela de valores, porém limitando a meia a 40% para cada setor? Quer dizer, o Flamengo botaria a venda, mas quando acabar, acabou, mesmo tendo carteirinha, não seria mais possível comprar meia. Entendido?

Também vou considerar a mesma pior hipótese, que seria que os ingressos fossem comprados totalmente dos sócios torcedores e descontando as 1500 gratuidades do setor norte. Também aumentei o valor do ingresso para visitantes, porque por princípio eles nunca devem pagar menos ou igual a um torcedor do Flamengo, sócio ou não.

Setor Lugares Inteira Preço da inteira pra ST Total
Oeste 2994 R$ 90 R$ 269.460,00
Visitantes 1201 R$ 120 R$ 144.120,00
Norte 1148 R$ 50 R$ 57.400,00
Sul 1273 R$ 70 R$ 89.082,00
Leste 3862 R$ 70 R$ 270.354,00

Setor Lugares Meia Preço da meia pra ST Total
Oeste 1996 R$ 45 R$ 89.820,00
Visitantes 800 R$ 60 R$ 48.000,00
Norte 1766 R$ 25 R$ 29.140,00
Sul 848 R$ 35 R$ 29.694,00
Leste 2575 R$ 35 R$ 90.118,00

Total geral: R$ R$ 1.117.164,00
Tíquete médio: R$ 60,51

Perceba: O preço mais caro que um Sócio Torcedor pagará de ingresso será de R$ 90, não mais de R$ 180. O preço mais barato que um sócio torcedor vai pagar será de R$ 25, não mais R$ 50. E perceba que o tíquete médio permanecerá praticamente o mesmo.

A percepção geral é de preço será muito mais barato. O torcedor se motivará a ir ao estádio. E mesmo pagando o valor inteiro ele não se sentirá prejudicado, já que estará pagando o mesmo valor da meia do ingresso mais caro. Tudo questão de matemática.

Vamos às perguntas:

Dá para fazer isso sem gerar fila na entrada para conferir a carteirinha? Dá, existe tecnologia para isso. Minha sugestão: usar o próprio cadastro do ST para armazenar as informações de carteira de estudante. O ST poderia fazer tirar uma foto do QRCode e o sistema validaria junto as entidades responsáveis (veja a imagem no final do post). Uma vez validada, o torcedor estaria apto para comprar um dos ingressos disponíveis para meia. Quando a carteira perdesse a validade, o torcedor teria que submeter o QRCode da nova carteirinha.

Implementar essa solução será rápido e barato? Depende da empresa que desenvolve o sistema, mas é provável que não. Mesmo assim, o custo será muito menor e será muito mais confortável para o torcedor do que fazer a conferência na entrada a cada jogo. A diretoria tem capacidade de fazer esse cálculo de custo melhor do que eu. Mas sempre a opção informatizada sai mais barata no longo prazo que a manual.

E para quem não é Sócio Torcedor? Para quem não é, provavelmente seria muito complicado conseguir comprar uma meia entrada. Infelizmente, não dá para agradar a todos. Porém, seguindo a mesma lógica, o ingresso mais caro para ele passaria a ser a metade do valor, ou seja, R$ 180 na Oeste. E o mais barato seria R$ 100 na Norte. O mesmo preço que ele paga na meia hoje.

Mudanças precisam ser feitas. Vejo muita gente reclamando de preço, torcedores, jornalistas, mas não vejo propostas, só reclamação. Eis aqui uma proposta concreta. Se irão adotar essa ou alguma outra solução é questão de opção do clube. Não pode é se acomodar e achar que é assim e pronto.

Como já falei uma vez no Twitter, vejo a Ilha do Urubu como uma startup. Ela foi feita para experimentar, errar, acertar, aprender, pivotar quando necessário. Agora é bem mais fácil que no dia que tiver um estádio próprio. E tendo um know how e uma estrutura já pronta, ficará muito mais fácil e mais barato gerenciar nossa própria casa no futuro.

PS: Pesquisando, vi que o novo modelo de carteirinhas de estudante possui um QRCode para facilitar a validação. Ela seria bem simples: o usuário tiraria uma foto do QRCode (usando o aplicativo de Sócio Torcedor para celular, por exemplo), que converteria em um link. Esse link seria enviado para um validador da emissora da carteirinha, que retornaria os dados e a validade da carteirinha. O nosso sistema bateria os dados da carteira com o cadastrado na nossa base de dados e pronto. Estaria checado se é ou não estudante. Esse link possui mais detalhes.


quinta-feira, 8 de junho de 2017

É hora de profissionalizar definitivamente o futebol

Nos últimos anos o Flamengo sofreu um choque de gestão que foi capaz de mudar totalmente a cara do clube. Depois de anos de gestões desastrosas, um grupo de torcedores se associaram e se reuniram para consertar o Flamengo. Empresários, executivos, funcionários públicos, autônomos. Pessoas que se doaram ao clube com um trabalho sério e com muito amor.

Durante esse período o Flamengo foi de exemplo de bagunça para modelo de gestão a ser copiado. Muitos setores sofreram uma mudança para melhor, com contratações de profissionais de qualidade que ajudam a fazer a roda girar no dia a dia. Mas ainda existe a figura do VP, que é composta na maior parte dos casos por gente com grande conhecimento na área que administra. Por exemplo: o VP de comunicação tem renomada experiência com comunicação. O VP jurídico possui experiência na área juridica. O VP de Esportes Olímpicos idem. E por aí vai.

Mas e no futebol? No coração do clube, quem fica à frente? Haveria alguém que poderia se dedicar ao comando da pasta de maior cobrança no clube, tendo experiência e conhecimento comprovados de futebol para poder conversar de igual para igual com o diretor de futebol, com empresários, jogadores, outros dirigentes, etc? Que tenha ao mesmo tempo visão gerencial, vendo a interligação do futebol com as outras pastas? Que seja honesto, acima de tudo? Que tenha frieza e deixe o emocional de lado nos momentos de crise, sem tomar medidas pensando no resultado da próxima eleição? Que se dedique quase que exclusivamente a isso, porque o cargo exige isso, e ainda não receba um centavo por isso?

Nesses últimos anos o cargo de VP de futebol é o mais problemático de todos, sem a menor dúvida. Já passaram vários nomes pela pasta, com inclusive um recentemente preso, para nossa vergonha. Várias vezes o presidente assumiu interinamente o posto, sem sucesso, obviamente. Já foi tentado ter um Comitê Gestor, que é a pior solução do mundo. Pior que um amador dando pitado é ter um grupo de amadores dando pitaco. Basta! É hora de acabar com o cargo de VP de futebol. Retirar inclusive do estatuto. É hora de esquecer as vaidades, a sensação de poder que o cargo possui e abdicar de sua existência. É hora de profissionalizar o futebol de ponta a ponta.

Hoje temos uma figura de CEO, ocupada por Fred Luz. Dizem que ele faz papel de VP de futebol, mas que conhecimento ele possui do negócio? Qual exatamente o papel que um CEO possui hoje no Flamengo? Isso não está claro para ninguém.

Minha proposta é:
Os grupos políticos do Flamengo (especialmente o SóFla, do qual faço parte) poderiam lançar a proposta de alteração estatutária eliminando o papel de VP de futebol. Simultaneamente, incluir a figura obrigatória de um CEO que seria um profissional contratado para gerir o futebol. Ele estaria no mesmo nível dos demais VPs hierarquicamente e se reportaria apenas ao Presidente do clube quando necessário. Não sofreria nenhuma interferência de comitê ou VP de outras pastas. Ele teria total autonomia de decisões, sujeitas a limitações orçamentárias. Estabeleceria metas para seus subordinados e as cobraria.

Para isso, é preciso abdicar das vaidades. Ser VP de futebol hoje é cobiçado apenas por quem interesses políticos e quer visibilidade. A partir do momento que o comando ficasse com um profissional, que pensasse apenas no futebol, independente de eleição, de quem é o presidente, a coisa mudaria totalmente de patamar. Um CEO com experiência em futebol e gestão seria o casamento perfeito. Seria a mudança final que faltava no clube para a profissionalização total. E seria mais um legado a deixar para o Flamengo.

Se hoje é preciso ter uma mudança no futebol não é começando de baixo. Será apenas um paliativo. O xis da questão está em cima. É essa que precisa mudar.